terça-feira, 7 de julho de 2009

TRAJETÓRIAS INDIVIDUAS / PERFIS


Tiveram início na década de 80. Há em todos eles um interesse pelo impreciso, pelo transitório.

Artistas ligados ao som, com ausência de formação musical.

Quando beiravam os 20 anos, os três se conheceram. Em 1995, montaram uma banda de sons estranhos sem que soubessem tocar instrumentos.

SÉRGIO MEKLER



vídeo – edita e monta imagens filmadas

BARRÃO (Jorge Teixeira)


escultor - constrói objetos feios das partes e sobras de coisas que já existem (de eletrodomésticos a cacos de louças)

LUIZ ZERBINI


pintor – cria pinturas que articulam tradições diferentes

"TOTORO" - Pinacoteca do Estado de São Paulo - JANEIRO 2009

Um conjunto de caixas de som, sobe e desce. Assemelha-se a um totem e robô super-herói. Totoro é um espírito protetor das florestas, vive em uma árvore de cânfora gigantesca e que apenas algumas crianças com qualidades específicas podem vê-lo. Trilha sonora do grupo ocupa o espaço. O “totem/robô” movimenta-se entrando e saindo de um enorme cilindro de madeira no centro da sala, comandado por um sistema de roldanas e um motor previamente programado.

PRODUÇÕES

Trilhas sonoras para filmes e coreografias
DVDs
Exposições
Instalações
Shows
CDs
Desenhos de partituras.

O PROCESSO

Cada um dos três artistas tem uma identidade própria. Mas, na hora de compor:
"Não se trata do Luiz, do Barrão ou do Sergio sozinhos. É o Chelpa. É ele que pensa. Fazemos o que o Chelpa vai gostar. Quando queremos resolver do nosso jeito, não emplaca. O Chelpa nega", explica Barrão.

Mas, ainda que impere a harmonia, há discordâncias e então é preciso exercitar a flexibilidade.

As idéias vêm de todos os lugares. Sobram. Não dá pra executar tantas.
A complexidade dos trabalhos pede ajudas: técnicos de som, marceneiros, produtores musicais, eletricistas e até cantores.

ATELIÊ, ESPAÇO DE ENCONTRO

Hoje estão instalados num um ateliê no bairro da Gávea
O ateliê parece uma oficina. Lá encontra-se desde madeiras e serrotes até motores e bombas de propulsão.
Barrão possuía, já nas décadas de 70 e 80 seu ateliê, em Laranjeiras. Que era frequentado pelos outros dois.

O QUE VEM DO TEATRO

Asdrúbal Trouxe o Trombone - década de 1970.Grupo teatral carioca revelador de talentos e inovador na forma de fazer comédia.
Eles estiveram lá e lá se encontraram.
O Asdrúbal trabalhava com criação coletiva, como um laboratório com contribuição de cada um e de todos. Eis uma importante herança.

NASCIMENTO E BATISMO

1995

De uma lista, tirada de um dicionário, sinônimos da palavra dinheiro.

"Chelpa e Ferro combinaram bem juntos", diz Barrão.

FORMAÇÃO DEFORMAÇÃO, (RE) FORMAÇÃO

“Originalmente não somos músicos, mas posso dizer que nos tornamos músicos. Não temos uma atitude propriamente musical, trabalhamos o som, este é um forte elemento do nosso trabalho”, explica o artista plástico Luiz Zerbini.

O TRABALHO

Pode ser visto em exposições e no palco, porque trafega por uma estética sonora que é visual, e por uma estética visual que é sonora.
O som que as obras buscam são aqueles que modificam o ambiente, principalmente através da sensação e mudança de estado sinestésico de quem os ouve.
Em alguns deles o público é convidado a intervir, interferindo no ambiente, alterando o seu silêncio.
Há obras em que imagens silenciosas podem ativar a memória de sons

AUTOBANG – BIENAL – SP – 2002

“Escolhemos os objetos pelo som que produzem. A lataria de um carro é um excelente instrumento de percussão. Partimos dessa idéia até chegarmos onde chegamos. Um carro que despertasse algum tipo de desejo latente nas pessoas, que tivesse um apelo sexual implícito, essas coisas que só carros, baterias e guitarras elétricas produzem.”

Nessa instalação um Maverick, ano 1974 foi objeto de um “batuque” feito a partir das tradicionais baquetas até martelos e marretas, passando por ossos chaves de roda e barras de ferro.

JUNGLE JAM - 2005


30 motores alinhados horizontalmente nas paredes, com um saco de plástico acoplado a cada um deles. As sacolas giram quando ativadas por um mecanismo acionado por uma programação de computador. Mexem-se, batem nas paredes e produzem sons, ritmos.
Lâmpadas coloridas piscam e pode-se visualizar ritmos.

ACQUA FALSA – 51ª BIENAL DE VENEZA – 2005

“(...) Passamos a trabalhar a idéia do som se propagando pelos canais, batendo nas paredes das casas, espalhando-se pelo espaço e atingindo longas distâncias na silenciosa sonoridade da cidade. (...) Som e luz estão em sincronia: de um lado a representação visual do ritmo; do outro o som. Nunca é possível ver os dois lados ao mesmo tempo. (...) De um lado, a luz gerada pelo som, do outro, o som da luz” Moacir dos Anjos – O barulho do mundo (p.112).

O trabalho aproxima o ambiente interno do externo, através da experiência sensível. Uma sala retangular é inundada e a travessia só pode ser feita por uma pequena ponte dividindo-a ao meio. Alusão a geografia da cidade. Há uma caixa de som próxima da água. O som que delas saem se propaga no ar e na água. Os estalos associam-se às mudanças rítmicas nas lâmpadas do outro lado.

MOBY DICK - 2003


Uma bateria exposta. Sem baquetas. Grande, majestosa. Apenas exposta.
“É a imagem silenciosa e precisa de um objeto que aciona o sentido da audição. Tal alteração no processo perceptivo desfaz hierarquias comumente associadas a experiências sinestésicas, em que a um som corresponderia uma imagem definida, mas à visão concreta de algo não equivaleria um ruído certo” Moacir dos Anjos – O barulho do mundo (p. 167)

Eis que uma imagem, um estímulo visual ativa a memória de sons.

O AMBIENTE SONORO/VISUAL DOS CRIADORES

Rock. Música pop.

Relação com imagens, vídeos, edições.

Tradição musical que se afasta das convenções tradicionais da música. E se aproxima de sua relação com elementos visuais.

Entre os “visuais” – Bernhard Leitner, Bill Fontana, Steve Roden, Stephen Vitiello, Christian Marclay

Entre os “sonoros” – advindos da década de 80, grupos de rock e música eletrônica - Sonic Youth, LFO (Low Frequency Oscillator), além de Stockhausen, Sex Pistols, Aphex Twin, Velvet Underground.

No Brasil – trios elétricos, festas de aparelhagem de Belém, performances de poetas radicais, obras de Hélio Oiticica e Cido Meireles

NO PALCO

Misturas de registros sonoros, acústicos, eletrônicos. Alguns já gravados, outros produzidos ao vivo
Sempre projeções. Elementos visuais que ora dialogam ora opõem-se ao som.
Uma música diferente, tocada por não músicos. Explorada por investigadores de sons
Instrumentos tradicionais servem para exploração de ruídos.
Aparelhos, incluindo os domésticos, são amplificados, como instrumentos.
Tradicionais e domésticos soam juntos.

OS INSTRUMENTOS DE TRABALHO

amplificadores, cabos, microfones, caixas de som, guitarras, pedais de distorção, instrumentos inventados, sistemas elétricos, fios, motores, players, qualquer material com potencial sonoro, vídeos, luzes, imagens,
conhecimento técnico e tecnológico, inventividade, interesse exploratório, curiosidade sonora e visual, desejo de alterar os sentidos dos observadores, busca.

A BUSCA

Pelo som, pela imagem
Pelos fragmentos, visuais e sonoros
Pelo inusitado, pelo acaso.
Pela criação de instrumentos originais, resultado de uniões inusitadas de objetos também inusitados, únicos.



PPGAC - Programa de pós-graduação em Artes Cênicas - UFBA
Doutorado em Artes Cênicas
Seminários Avançados II
Módulo I
profª. Drª Ivani Santana
edição e pesquisa de imagens/videos: Celso Jr. celsoaojr@uol.com.br
textos: Karina de Faria karifaria@yahoo.com.br
2009.1